Antoine de Saint-Exupéry, no
Capítulo 21 de seu mais famoso livro, "
O Pequeno Príncipe", ilustra bem a importância da rotina e também mostra que ela deve ser estabelecida/ajustada com paciência.
Para quem conhece um pouco da estória, este é o Capítulo em que aparece a raposa, pedindo ao Pequeno Príncipe que a cative. Replico abaixo um trechinho, mas encontrei o
livro todo disponível na Internet:
" - A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me !
- Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas, cada dia, te sentará mais perto...
No dia seguinte, o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta a agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
- Que é um rito? Perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias! "
Como comentei anteriormente, a Encantadora de Bebês recomenda a implementação de seu Programa, conhecido pela sigla
E.A.S.Y., que ajuda a estabelecer estrutura e rotinas diárias, na seguinte ordem: comer, brincar, dormir e dar um tempo aos pais (em inglês:
Eating, Activity, Sleeping, Yourself). Esse plano permite o atendimento das necessidades do bebê e a recuperação da mente e corpo da mãe (seja tirando uma soneca junto com o bebê, conseguindo tomar um banho mesmo estando sozinha com ele, dar uma volta ou tratar de seus assuntos e interesses pessoais). E, segundo a enfermeira, ao seguir essa estrutura lógica, a criança não tem de lidar com a imprevisibilidade, que tanto a assusta, e acaba aprendendo que, bem ou mal, existe hora para tudo nesse mundo.
Não tivemos dificuldades para estabelecer uma rotina com a Luísa, mas ela não é rígida e nem sempre acontece exatamente nos mesmos horários, mas respeita esta sequência de atividades e tem dado bem certo! Posso dizer que, graças à rotina, consigo identificar com mais facilidade os choros e necessidades da Luísa e atendê-las prontamente, evitando momentos de crise. Também conseguimos desde muito cedo nos organizar para realizar outras atividades, passear, etc., além de já termos recuperado nossas noites de sono. Brinco que a nossa vida agora acontece em ciclos...
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Os vários registros de nosso dia-a-dia... |
Aqui também vale o
ciclo PDCA, ciclo de desenvolvimento com foco na melhoria contínua (
Plan-Planejamento,
Do-Execução,
Check-Verificação e
Act-Ação). Como em qualquer processo, é necessário ter informação para conseguir agir de forma eficiente... e realizar ajustes aos poucos, facilitando a adaptação e o completo atendimento às necessidades e do bebê.
Desde o primeiro dia com a Luísa, mantenho registros de todos os detalhes do nosso dia: os horários em que a amamento, as atividades que realizamos, períodos de sono, seu comportamento, etc. Estas anotações foram fundamentais para que eu pudesse notar um padrão (especialmente porque os dias são assustadoramente iguais, fica muito fácil de se confundir!) e também para que eu pudesse conhecer melhor a Luísa. No começo, é muito difícil entender o que o bebê precisa... conhecer os horários fez com que eu aprendesse a diferenciar seus choros. Também pude notar quando ela tem mais sono, quando podemos realizar atividades mais agitadas sem estressá-la, etc.
Na primeira semana, nos limitamos praticamente a observá-la durante nossas tentativas e erros. No começo, tendemos a achar que todo choro é fome, uma vez que uma mamada costuma silenciar qualquer choro... mas não necessariamente resolve o problema ou incômodo. O bebê que se alimenta exclusivamente de leite materno costuma sentir fome em períodos de 2,5 a 3 horas. Analisando os registros da primeira semana, notei que às vezes eu a amamentava em períodos menores, mas ela mamava por pouco tempo e logo adormecia. Na segunda semana, procurei alimentá-la seguindo este intervalo e, como acompanhei seu desenvolvimento semana a semana durante o primeiro mês, me certifiquei de que era mesmo suficiente, apesar dos meus temores: ela ganhava uma média de 50g / dia e seu intestino sempre funcionou muito bem.
Esta rotina para a amamentação é polêmica, pois muito se diz sobre a importância da "Livre Demanda" (ver link abaixo). Mas, para nós, foi a chave para uma vida mais tranquila e saudável... De qualquer forma, sempre vale o bom senso: caso a mamada tenha sido muito curta (interrompida por um movimento intestinal ou alguma distração, por exemplo), se o bebê estiver muito sonolento ou você não tiver percebido a sucção/deglutição, vale a pena insistir. Também existem os chamados "impulsos de crescimento" (a cada 3 ou 4 semanas), quando a alimentação pode precisar ocorrer em intervalos menores.... e sempre haverá dias em que o bebê precisa de um carinho/conforto adicional e você não vai deixá-lo chorando simplesmente porque ainda não se passaram 3 horas! O ideal é realizar a amamentação em um local tranquilo e não se apegar ao relógio, além de tentar se concentrar no bebê (não falar ao telefone, não conversar, etc).
Para nos acostumarmos com a amamentação, eu segui a livre demanda no início. E acredito que voltaremos a este esquema quando a amamentação já não for a fonte exclusiva de alimentos da Luísa e se tornar mais um momento de aconchego, depois que eu voltar a trabalhar.
Nos primeiros dias, especialmente se o bebê nasceu antes da hora ou muito pequeno, a maioria dos pediatras recomenda que o bebê seja acordado caso não desperte para mamar a cada 4 horas. Se esse tempo é ultrapassado, ele pode desenvolver hipoglicemia (baixa quantidade de açúcar no sangue), o que pode levar a uma sonolência profunda e, em alguns casos, provocar lesões neurológicas. Na Maternidade, recomendaram desagasalhar o bebê, caso se apresentasse muito sonolento durante a mamada.
Bom, depois que a rotina da alimentação estava estabelecida, em períodos de 3 em 3 horas (contados a partir do início da mamada), o restante aconteceu naturalmente. Após as mamadas diurnas, procuro sempre fazer alguma atividade com a Luísa (banho de sol, música, estória, Baby Einstein, brincadeiras, tapetinho, banho...) e, assim que ela começa a dar sinais de cansaço (bocejo, olhos avermelhados, desviando o olhar, esfregando o rosto, resmungando...), eu cesso imediatamente os estímulos e a ajudo a diminuir o ritmo (às vezes na
balancinha), para que possa adormecer. Normalmente, espero que ela acorde sozinha para a próxima mamada.
Quando precisamos sair, costumo deixar tudo preparado durante sua soneca e, logo depois de amamentá-la, coloco-a no carro... ela se distrai um pouco pelo caminho e acaba adormecendo. Desta forma, temos quase 3 horas de "liberdade" para fazer o que for necessário antes da mamada seguinte.
Quando tenho algum compromisso com horário marcado, vou ajustando os horários ao longo do dia, um pouco em cada ciclo, mas tentando manter a sequência das atividades, para que ela se adapte facilmente à mudança na rotina.
Nossa rotina diária tem sido mais ou menos assim:
* Dorme das 22h às 06h direto (8h de sono).
* Mama às 06h e dorme novamente até as 9h.
* Mama às 9h, toma 10 minutos de banho de sol (quando possível) e eu cuido dela (vitamina, soro no nariz, higiene dos olhos e rosto, hidratante no corpo, corte das unhas, talco líquido, troca de roupa, etc.), dorme das 10h30 até as 12h.
* Mama às 12h, realizamos alguma atividade e depois ela dorme das 14h até as 15h.
* Mama às 15h, realizamos alguma atividade e depois ela dorme das 17h até as 18h.
* Mama às 18h, normalmente faço alguma atividade com ela em meu colo (leitura / música...) ou a massageio ou ela fica com o papai (se ele chega cedo). Dorme por 30-40 minutos até as 21h (quase sempre, nós é que a acordamos neste horário).
* Mama às 21h, toma banho, mama novamente e dorme em seguida, às 22h.
Normalmente, temos agora em 24 horas: 7 mamadas, 14-15 horas de sono, cerca de 7 trocas de fralda e 3-4 cocôs. Mas nossa rotina já foi diferente... No começo, o intervalo de 3 horas entre as mamadas valia para as noites também (ela mamava às 21h, às 00h, às 03h e às 06h). Depois, ela foi dormindo por períodos maiores durante a noite (com menos de 2 meses, já dormia por cerca de 5 horas) até atingir as 8h atuais (a partir dos 2 meses e 3 semanas). Os horários também foram se ajustando e ainda há dias em que variam um pouco, dependendo da hora em que acorda do sono mais longo ou se saímos desta rotina durante o dia por qualquer motivo. Agora com o final do horário de verão, estes horários estão se estabilizando 30 minutos mais cedo, mais ou menos.
Quando vamos sair para jantar à noite (um dos nossos principais momentos de lazer), por exemplo, costumamos adiantar o banho dela em 1 ciclo e não acordá-la após o sono das 20h30... só alimentando-a quando voltamos à nossa casa ou, se não consigo despertá-la facilmente ao chegar, aguardo até que acorde sozinha durante a madrugada.
O ciclo da mamada das 18h também é o período em que ela está mais cansada e a atividade precisa ser menos agitada. O ruim é que este é normalmente o horário em que recebemos visita durante a semana (após o horário comercial), sendo que às vezes ela fica um pouco 'chatinha' por conta da mudança na rotina.
Ah... devido à redução no número de mamadas, hoje ela tem ganhado uma média de 30g / dia, mas os pediatras dizem que seu desenvolvimento continua em um ótimo ritmo!
E, ao contrário dela, eu ainda não durmo 8 horas ininterruptas à noite (apesar de já descansar bem melhor), porque costumo dormir mais tarde e também porque meu corpo ainda não se acostumou a 'pular' as mamadas noturnas e tenho acordado pelo menos 1 vez para bombear leite, que envio semanalmente ao BLH.
Em breve, preciso planejar nossa rotina de quando eu voltar a trabalhar, para começar a fazer alguns ajustes, de forma que a Luísa possa se adaptar mais facilmente quando precisar ficar no berçário e não sofra muito também.
SAIBA MAIS:
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Resumo do Capítulo "A Frequência e a Duração das Mamadas", do livro Un Regalo Para Toda La Vida, do Dr. Carlos González (sobre a Livre Demanda).